Recife, Sexta-feira, 29 de Março de 2024 - 11:55h

Espaço do Auditor Fiscal

notaDERRETIDOS EM FOLIA

DERRETIDOS EM FOLIA

(Autores: Nuca – Bione)

O nosso bloco vai botar pra quebrar

Até o sol raiar

Até amanhecer (BIS) 

Vamos fazer o nosso acordo já

Você vai ter que me dar

E eu dar pra você

Aquele abraço gostoso, apertado

No passo de um frevo rasgado

Sem esmorecer 

Não é segredo, somos derretidos

Você por mim e eu por você

Vamos levar  o nosso bloco em frente

Que toda essa gente vai se derreter...

- Com a gente!!!

"A culpa é do governo"

"A culpa é do governo"

- Me dê um sorvete de cajá, mestre.
- Pois não, doutor.
- Peraí, mestre, o senhor tá jogando o papel no chão.
- E eu pago imposto pra quê?

Este singelo diálogo aconteceu entre mim e um vendedor de sorvete, na outrora bucólica praia de Maria Farinha. Tomei esse exemplo emprestado para ilustrar um fenômeno que vem se repetindo, ultimamente, com uma frequência preocupante: a cobrança de parte da população por uma quase onipresença do estado nos mínimos detalhes de nossa vida. Isso, quando interessa.

"A culpa é do governo" é o bordão que se repete ad nauseam, nas mais esdrúxulas situações. Recentemente, por exemplo, o presidente da Associação dos Produtores de Leite de Minas Gerais bradou tal grito de guerra nas páginas dos jornais. "A culpa é do governo", disse ele, referindo-se ao criminoso ato de alguns de seus associados estarem misturando água oxigenada, soda cáustiva e até xixi de vaca aos laticínios nossos de cada dia. "Devia haver um fiscal para cada empresa", vociferou, como se os produtos de leite fossem crianças inimputáveis que precisassem ser vigiadas ininterruptamente a fim de não cometerem erros.

Como Auditor Fiscal do Trabalho, fico comparando tal episódio com uma imaginária (apenas imaginária, frise-se) declaração do presidente do Sindicato da Indústria da Construção, culpando o governo pelos acidentes do trabalho ocorridos em suas obras. "Se houvesse um fiscal em cada obra isso não aconteceria" diria ele, livrando seus associados de qualquer responsabilidade sobre o não cumprimento das normas de segurança.

Desde a deflagração do famigerado "apagão aéreo", o governo vem sendo responsabilizado por tudo o que acontece na área, da queda do avião da Gol ao incêndio da aeronava da TAM. Longe de mim querer eximir as autoridades (in)compententes da culpa que, porventura, lhes caiba. Mas generalizar, a priori, não é o caminho mais sensato. Recentemente, por exemplo, no dia seguinte ao anúncio da quebra da BRA, o jornalista Clóvis Rossi bradava do alto de sua coluna na Folha de São Paulo: "Onde estavam as autoridades?" Ora, ele também devia se perguntar onde estavam as autoridas brasileiras na época da falência da Panair do Brasil, onde estavam as autoridades americanas quando a Pan Am, então maior companhia aérea do mundo, fechou suas portas, e as autoridades suíças, quando a Swissair levou o histórico tombo.

O que se depreende daí é que cidadania no Brasil tem duas vertentes. Uma passa pela irresponsabilidade em relação aos "meus deveres"; a outra, essa bem mais inflada, tem a ver com "meus direitos". As pessoas que saem às ruas contra a prorrogação da CPMF muitas vezes são as mesmas que exigem a presença do governo em cada detalhe da vida da nação.

Noite dessas, numa costumeira mesa de bar, colega de copo reclamava de alguém que fumava em uma mesa próxima. "O governo devia proibir de vez o fumo em lugares públicos", reivindicou. Passado algum tempo, numa conversa sobre Tropa de Elite e tráfico, a mesma pessoa afirmou: "Se eu fosse o governo liberava de vez o consumo de drogas". Como um Sócrates de boteco, apenas perguntei: "E proibia o de cigarros?...". Gargalhadas gerais. Tudo por culpa do governo.

*Matéria originalmente publicada no Jornal do Commercio, de Recife, em 27-11-2007.
*Manoel Bione é médico, jornalista e auditor fiscal do trabalho.

 

Fonte: AFITEPE Informa.
Data:26/02/2008



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